MEU TEMPO
Na minha cabeça ingênua
Moram ideias de toda idade.
Não sinto saudade do que não vivi.
E, se viver atento me comove,
Sinto os olhos no futuro
Pois, acaso o dia está escuro,
Chorar eu vou se não sorri.
Na minha musculatura atônica
Toca o som do dorso da cidade.
Toda a gente se equilibra ali
E, se a dor não seja algo que se prove,
Durmo à sombra do inseguro,
Sustenta o desejo ainda puro
Orar na reza que nos deixa existir.
Na minha boca insidiosa
Está o batom das damas-da-noite
Nos meus olhos sem propósito
A luneta prevê uma supernova
Meus ouvidos
Eclipse
Meus ossos
Decidam-se.
A anatomia do descaso
Mostra intensa multidão
Apertando botão
Descendo o dedão
Na tela
Caindo no vão
Da teia
Pedindo perdão
Ateia
Na contramão
Na amplidão
Da imensidão
À toa.
Meu semblante já vivido
– carranca do abismo: do mar;
Sabe de tudo o que já aconteceu
E o que tido ainda será,
Conhece as dezenas da loteria
Pressente o sono que deveria acordar
Faz seresta pois sabe que nunca irão escutar.
Meu semblante um tanto gasto
É pasto para o lobo da gente se alcovitar.
O meu mundo...
Do meu mundo eu não posso falar.
Pois passam ao lado do tempo os mísseis e os tanques
Palanques difíceis: tão próprios pro lobo uivar.