Nunca ter crescido.
Rio 08.10.2018.
Nunca ter crescido.
Eu tenho um pouco de saudade
de acreditar que tudo era possível,
voar pela cidade, ir a toda parte
e até ser um homem invisível.
Eu sinto alguma falta de imaginar
que mundo inteiro era um tabuleiro
que cabia no meu quarto
e que a via Láctea ficava,
bem ali, no meu quintal.
Não é que eu não tivesse medo,
eu tinha até muito mais do que
hoje eu tenho por sinal.
Mas era muito mais tranquilo
porque eu sabia que a minha mãe
me protegeria de todo e qualquer mal.
E a morte era coisa que eu já tinha ouvido falar,
mas nunca havia batido de frente,
eu sorria escancarado (sem a menor vergonha),
apesar de me faltar um ou dois dentes.
E na escola tinha a professora que falava
de uma outra dimensão onde havia
miséria e pessoas más.
E eu queria mesmo era ir pro recreio,
brincar de pique pega e de correr atrás.
Na tv eu ouvia, as vezes, falarem sobre política
e que eu era o futuro da nação,
Eu não dava muita bola por estar ocupado
fazendo minha rabiola ou rodando o meu pião.
Mas o tempo, que eu nem me dava conta,
passou feito o "The flash" e me
deixou descrente e sem motivo.
Eu tenho um pouco de saudade
de acreditar que tudo era possível.
E as vezes, para ser sincero, eu
queria nunca ter crescido.
Clayton Márcio.