Se fosse só sentir saudade
Mas tem sempre algo mais
Seja como for
É uma dor que dói no peito
Pode rir agora
Que estou sozinho
Mas não venha me roubar
Angra Dos Reis
-Legião Urbana
De dentro de meu quarto penso.
Quatro paredes alvas e mudas me observam, silenciosas.
O que será do mundo lá fora? Não há barulho da rua.
Nenhum pássaro pia, nenhuma alma passa.
Algum problema? Alguma novidade?
Penso que talvez uma gigantesca calamidade cósmica tenha levado todo o mundo conhecido e as pessoas desconhecidas que nele insistiam em ser.
Eu ainda insisto, será que estou só?
Mas como estaria? Se ainda martelo essas palavras pouco versadas, desencontradas e maltrapilhas na mente louca dentro da casca fina de minha cabeça?
Nunca ficarei só, mesmo que deseje com todas as forças que nunca tive, mesmo que sonhe, mesmo que agora possa ser o último velho homem a ver o mundo novo.
Não importa.
Sempre terei a mim e minhas palavras bobas de servo, meu grande amor por mim, pelas coisas miúdas e pelo que escrevo, mesmo que não haja valor algum impregnado em minhas magras sentenças e meus versos ordinários.
A cada palavra sussurrada sobre o papel do sonhador nasce uma modesta eternidade em algum lugar velado e longínquo, dentro de algum coração necessitado, na superfície líquida da lágrima daquele que lê, na morada negra das estrelas mortas que apontamos no céu.
Talvez eu esteja só, só não saiba disso, ou sonhe, sonhe que estou só, sobre a macia cama imaginaria que não é minha, dentro do quarto apinhado de lembranças montadas como peças de brinquedo que não conheço, no mundo vazio que talvez seja só meu.
Sou um sonhador, sempre serei.
Mesmo que não haja mais ninguém.
Só eu e eu mesmo, no silêncio de meu quarto.