QUANDO VIRO DEUS DE DEUS
Amo brincar com as palavras,
arrancando delas sua alma, seus segredos, sua vida.
Amo surpreender meus leitores com esses escritos,
derrubando suas armaduras, flagrando suas trincheiras,
deixando-os na minha mão, cativos até onde bem quiser.
Quando escrevo viro Deus de Deus
criatura amorfa que se salamandra no que bem quiser.
Quando dedilho essas letras me leonino e ninguém consegue
deter meus saltos ao infinito. Ninguém mesmo.
É gozo solitário, absoluto, impagável, inimitável.
Podem apagar meus olhos, enferrujar meus ouvidos,
dilacerar meu paladar, aleijar meus movimentos,
decapitar meus sentidos, coalhar meus cheiros,
o que bem entender.
Mas não usurpem de mim o direito dessa lúdica
dádiva, à qual humildemente me submeto com
total devoção e apaixonada obediência.