DOS GOSTOS SUBMERSOS NA MINHA ALMA
Têm vários gostos que ainda não me untei,
o gosto do arame farpado,
o gosto do sonho cariado,
o gosto do medo deportado.
Têm o gosto da câimbra na dúvida,
o gosto do vendaval nos desejos,
o gosto do adeus sem arremate.
Têm o gosto da ferrugem na vontade,
do coalhado do desprezo,
do rasgado da solidão.
Têm o gosto da verdade cuspida,
do sorriso afogado.
do segredo trucidado.
Têm o gosto da razão desnuda,
da espera sem eco,
da certeza em areia movediça.
Todos esses gostos eu desconheço
mas estão submersos na minha alma desde sempre
só esperando o momento de estrear,
de sacudir meus sentidos,
de desparafusar meu chão,
de me fazer, finalmente, ser humano.