DEVANEIO À SHANGRILÁ
Eu vou à Shangrilá
Por entre montes tantos
Encontro-me comigo
E encho-me de canto
E fico-me por lá.
Na hora de voltar:
Eu minto. Invento prantos
E faço-me abrigo
Procriando o mundo
Como fosse Gaia.
Espalhando o corpo à la samambaia;
Tudo num segundo,
Antes que a luz caia.
Era lírio puro!
E a vida tão pequena
Não cabia em Shangrilá,
Nem em Shambala morena.
Era Recife escuro,
Era Capiba imaturo,
Correndo n’água serena.
Bebi Capiba– o rio.
Molhei o rosto com a mão,
Matei a sede num frevo,
Sambei um samba canção
E pus os pés em Recife;
E pus o corpo em Recife;
Eu só não pus emoção.
Que emoção só com flauta:
Flauta doce além dos montes.
E em Recife o que falta
São passageiros e nautas
Dispostos a procurar
Procurar-se! Encontra-se consigo!
Qual me encontro comigo
No caminho, em Shangrilá.