DEVANEIO À SHANGRILÁ

Eu vou à Shangrilá

Por entre montes tantos

Encontro-me comigo

E encho-me de canto

E fico-me por lá.

Na hora de voltar:

Eu minto. Invento prantos

E faço-me abrigo

Procriando o mundo

Como fosse Gaia.

Espalhando o corpo à la samambaia;

Tudo num segundo,

Antes que a luz caia.

Era lírio puro!

E a vida tão pequena

Não cabia em Shangrilá,

Nem em Shambala morena.

Era Recife escuro,

Era Capiba imaturo,

Correndo n’água serena.

Bebi Capiba– o rio.

Molhei o rosto com a mão,

Matei a sede num frevo,

Sambei um samba canção

E pus os pés em Recife;

E pus o corpo em Recife;

Eu só não pus emoção.

Que emoção só com flauta:

Flauta doce além dos montes.

E em Recife o que falta

São passageiros e nautas

Dispostos a procurar

Procurar-se! Encontra-se consigo!

Qual me encontro comigo

No caminho, em Shangrilá.

aeros
Enviado por aeros em 03/09/2018
Reeditado em 04/09/2018
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