MANHÃS
todas as manhãs
acalento sonhos
e reprimo entre a pele e a carne
uma agudíssima dor
todas as manhãs
tenho as mãos ásperas e dormentes
de tanto cavar futuros
e desenterrar esperanças
roubadas de mim desde a infância
todas as manhãs
junto ao nascente dia
ouço as vozes do passado
âncoras dos navios
de minha memória europeia
a me conduzir pelos caminhos
da fé, da virtude e do bem querer
e creio, creio muito
que meus sonhos
protegidos pelo lençol do tempo
ao se abrirem um a um
no varal da existência
ajudam a escoar minhas lágrimas
fertilizando a terra
onde lindas sementes resistem
e hão de reamannhecer
esperanças em mim.