Carta ao amigo (parte dois)

E, neste momento, eu paro

eu olho, eu penso

que talvez melhor seja sonhar

amar alguém que anda muito distante

distante o suficiente para não me tocar

e provar-me que não é sonho

é o mundo real em volta

melhor que seja

melhor amar um sonho

sonhar um amor (graças a Deus) impossível.

Tento preencher meu vazio

com comida, com leitura, com trabalho, com sono...

mas melhor que não o seja,

um vazio jamais manchado pelo erro

mais vale que um coração pleno de mágoa.

E foi assim que eu me dei,

louca em desespero,

um vazio de fome,

e eu me dei.

Naquela hora, então, tudo doce.

Mas agora...

Melhor que não tivesse sido

a carne fraca, o pensamento febril

o agir leviano...

agora sim, só o vazio,

meu querido.

Meu, só meu... e querido.

Um vazio que me lembra que só o sonho,

só mesmo em sonho: tudo é pleno!

E não mentiroso e efêmero.