O estar de cada coisa
Todos os tetos me cobrem
E me cobriram
Com rachaduras
Fissuras de acaso
Que se confundem com essa ausência
Com esse repertório de vazios colecionados, recolhidos
Me faltam partes por toda parte
Ah! Oh! Não!
Tem partes faltando demais
Minha mãe não vem.
Me falta acolhida
Me faltam dois filhos
Me faltam amigos
Me falta justiça
Falta o amor da história, do sonho
Falta ver a cor séria
Falta alegria na boca dos que ainda beijam com inocência
Encontrei as flores
Mortas
As borboletas
Sós, sempre lagartas
Eu quero quebrar as minhas partes
Meus tetos me pisam, me espremem
As rachaduras cospem culpas de cimento molhado na minha cara
Não há quem concerte.
Não há quem socorra.
As rachaduras riem de mim
Vomitam bruma plácida violenta
Meus tetos se rasgam, inundam meus pés
Se despedem
E eu sigo
Sem teto
Sem pés
Só rachas duras.