O estar de cada coisa

Todos os tetos me cobrem

E me cobriram

Com rachaduras

Fissuras de acaso

Que se confundem com essa ausência

Com esse repertório de vazios colecionados, recolhidos

Me faltam partes por toda parte

Ah! Oh! Não!

Tem partes faltando demais

Minha mãe não vem.

Me falta acolhida

Me faltam dois filhos

Me faltam amigos

Me falta justiça

Falta o amor da história, do sonho

Falta ver a cor séria

Falta alegria na boca dos que ainda beijam com inocência

Encontrei as flores

Mortas

As borboletas

Sós, sempre lagartas

Eu quero quebrar as minhas partes

Meus tetos me pisam, me espremem

As rachaduras cospem culpas de cimento molhado na minha cara

Não há quem concerte.

Não há quem socorra.

As rachaduras riem de mim

Vomitam bruma plácida violenta

Meus tetos se rasgam, inundam meus pés

Se despedem

E eu sigo

Sem teto

Sem pés

Só rachas duras.

Taís Mendes
Enviado por Taís Mendes em 22/08/2018
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