MINHA ESTIAGEM

Minha estiagem chegou mansa e sombreada

abraçou todo chão com vigor juvenil.

Seus tentáculos famintos estavam graúdos,

fartos nos desejos, imensos no furor,

destravados nos sonhos.

Minha estiagem se fez corpo, alma,

se cuspiu Deus.

Estancou meus passos, meus suores,

minhas ereções mancas e puídas,

que saudade delas.

Minha estiagem não se fartou de arrasar,

não se permitiu descartar o bolor,

nem aqueles musgos que outrora me lambuzei todo.,

lembra?

Ela é rainha dos meus ossos, dos meus parcos voos,

ela se diz vingada quando escancara meus pecados,

quando faz faxina no meu sangue atolado.

Minha estiagem um dia vai embora de vez,

se vai, se vai...

Mas enquanto se fizer aqui

virando meus oásis num árido sopro

fará de mim seu servo eterno,

como eterno serão seus frutos,

seus tombos, suas tenras raízes,

seu cheiro, seu gosto, seu vulcão.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 08/08/2018
Código do texto: T6412800
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