Desaguar
Um dia soltei meu olhar noite adentro
Na esperança de talvez me encontrar,
A vida já foi para mim um cata-vento,
Girava livre tentando me controlar,
Eu que sou fruto do ventre de um rio.
Meu desejo profundo é poder desaguar.
Navegando a vida varei por tantos caminhos,
Incertos destinos: vi ouro, cobre e prata,
Não vi sentido, senti no peito um torvelinho,
Uma vaga cuja a saudade do rio não mata,
Meu desejo é desaguar no teu caminho.
Desse rio adoço a vida, cada porto um reviver,
Renovo a despedida até saudade naufragar,
Amores em noites marujas eu, o rio e você,
Meu desejo profundo é poder desaguar...
Na foz, diante do rio destilar de prazer.
Às vezes me pego sem conta contra o vento,
Prossigo no teu encanto seguindo o instante,
Como é bom navegar no teu sentimento,
No teu amor serei eternamente navegante,
Nos teus braços achei o meu firmamento.
Deságua suave tua alma desnuda feminina,
Feito doce corrente marulha assim vibrante,
Tua beleza reflete no rio em forma cristalina,
Sacia minha sede com tua alma refrescante,
Meu destino é navegar, teu amor é minha sina.