SNOOPY

Meu cachorro tem muitas vidas.

Tem a minha e a dele,

Tem a do poste parado

Que ilumina a rua escura

De árvores cheirando à casca,

Folhas e urina multicores.

Meu cachorro tem vários instantes

de muros, areia e pássaros,

Cava, enterra e canta,

Áspero, macio e feliz.

Tem motivos e lambidas,

Olhos que perseguem sonhos.

Tem, na volta, uma alegria

Contida na cauda erguida.

Meu cachorro tem muitas noivas,

Estrelas, formigas e grilos.

Cheira, brinca, olha e foge,

Brincando na tarde mansa.

Meu cachorro tem muitos nomes:

Filho - Preto - Carvoeiro,

Cada um é um pouco dele

E muito um pouco de mim.

Leva no focinho erguido

Uma enciclopédia de odores:

Carro de vidros abaixados,

Aroma de moitas vivas,

Moitas de memória largas,

Visitas que assovia,

Tesouros que ele enterra

Em tempo de ouvir risadas

E dores mal resolvidas.

Cor do carro, quando chegada,

Tristeza, quando partida,

A espera na sacada

Do abraço, o fiel amigo

Com olhos de cheirar comida

Corre, pula, late e canta

Uma canção de alegria.

E dentro de tanta vida

Guarda a minha com a sua

Desde que adotou-me, fiel,

Meu cachorrinho de rua,

De raça indeterminada,

Uma mistura feliz

De amor, carinho e ternura.

Não precisa pedigree

Nessa vida de aventura

Que brinca, pula e corre

Pela casa o dia inteiro

Pra depois dormir cansado,

Feliz por ter me encontrado,

Ter me adotado primeiro.

Gilberto de Carvalho
Enviado por Gilberto de Carvalho em 17/05/2018
Reeditado em 17/05/2018
Código do texto: T6339424
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