Ponta solta
Troco disjuntores do ego
faço gambiarras n'alma
prefiro sagitário a escorpião
conserto fiação velha que bombeia
ideias maniqueístas.
Por um triz
pulo o outro ao espelho.
Sorrio sem máscara
pro imigrante que me espreita.
De nada adianta,
há sempre um infarto inevitável.
Sou menor que formiga.
De nada valho,
não caibo aqui
nesse finito imediato.
Me olho na correnteza
dos dias,
vejo a água levar uma
fotografia que nunca voltará.
Tenho afinidade a decepções.
Observo borboletas —,
são passivas/graciosas,
são melhores que nós!
não sabem que vão morrer,
elas sabem evocar a primavera.
Não aprendi nada
que me tornasse melhor.
É sempre o mesmo inverno vietnamita
que me assalta pela indecisão do caos.
Me estrago com o mundo,
eis aqui um suicida fracassado,
um estranho que pensa,
obcecado por matar odes mirabolantes.
Palavras morrem a todo instante
sufocadas
dentro da vitrine de um dicionário.
Enquanto penso
alguém está num mega porta-aviões
pronto a atacar,
alguém morre de fome em Moçambique,
alguém faz um gol milionário em Barcelona,
um míssil cruza o céu do Japão,
a chuva ácida cai sobre a China,
alguém ataca a Síra,
alguém atiça a Rússia,
alguém foge da Polônia,
alguém furta uma nação inteira,
alguém está prezo em sua fortuna
e não sabe socializar o ego.
Melbourne na Austrália
Vancouver no Canadá
é o sonho
sobre a terra.
Enquanto penso
alguém se afoga
com medo do futuro,
com medo do governo.
Enquanto penso
alguém vira pó, porta-retrato
alguém comemora mais um ano
de imbecilidades.
Desenho minha vida numa folha de sulfite
e a reescrevo assim como faço com lampejos
de poemas que morrem sufocados pela
realidade.
Minha vida são
pedaços de vidros
que nunca mais se remendarão.
Sinto a presença estranha de Deus
se coçando feito um animal no
quintal dos sonhos,
desdenhando dos meus fracassos,
da minha medíocre vida,
da minha falta de inteligência,
do meu comodismo, do meu ríspido eu,
do meu mal humor perante a humanidade.
aBel gOnçalves