O meu amor não envelhece....
.. é que parece que está tudo nos seus devidos lugares:
a mesma mágoa.. a impressão de que a janta estará na mesa...
o meu gostar, que não envelhece nunca.
Vejo a sua mão ajeitando a minha franja, como da primeira vez...
vejo os versos amarrotados e vazios,
as tristezas...
as chegadas:
as idas e vindas.
Nossos silêncios calados...
o coração falando o que a boca seca...
o amor morrendo,
se remoendo.
E eu lembrando tudo...
do seu abraço amigo...
da menina grande;
da menina gente-grande...
da lágrima que eu escondi...
das decepções todas.
E eu ainda te lembrando...
ainda assim, te bordando na minha insanidade...
que é o que me resta, depois de tantos anos.
Lembro, lembro, lembro..
das viagens,
das suas aparições de meio-dia...
das flores, todas elas...
que tanto me coloriram,
e que de desbotaram nos meus diários antigos.
As útimas vezes que eu te vi.
As últimas palavras...
As últimas intermináveis despedidas secas...
Os últimos versos, mais antigos.
É como uma música, entoada às pressas,
um clipe antigo de atores ainda no início....
É como os versos que eu não disse....
como o amor que um dia eu tive...
Fecha as gavetas,
tranca as portas...
e deixa o teu silêncio,
que diz mais que todas as palavras ditas....
Deixa teu cheiro guardado em poesia,
teu abraço,
teu sorriso...
tua eterna presença...
deixa a menina, hoje gente grande...
deixa o homem, eterno menino...
silêncios, esperanças...
de que a cura venha, mais do que depressa:
entre versos e silêncios, a cura....
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Certo.. eu estava ouvindo Oswaldo Montenegro.. te lembrando.. recordando uns pedaços de versos e vida que muitas vezes me fazem abrir as gavetas, os poemas, as cartas... Concatenando se eu teria mesmo sido.. feliz. Apenas conjecturas, num horário de almoço tremido e apressado.. como são todos eles. O meu amor não envelhece nunca....