Saudade n° 13
Joana não se conformava.
Atravessou a cidade estranha,
No lábio o fel da vida,
Na cabeça cabelos raros
Em meio a depressão urdida de pranto,
No olho a sombra de um amor mal resolvido.
Fizera um mês a cama vazia,
Nos quatro cantos do quarto, a perambular
A penumbra da saudade soberba —, sufocante.
O cheiro dele permanecia ali, o suor,
A voz vibrante e sincera
Ofertava ao dia sua gentileza,
E às pessoas a sua prudência.
Cada lembrança _,
Como se fosse um fragmento
Do ser de Joana que definhava,
Se rasgava em dor e lamentações
Sobre uma condolência distorcida.
Em meio a depressão urtiga ela seguiu
Além da cidade.
_ Precisavas buscar seu homem de volta!
Inútil seria a vida com a ausência de Mário.
Joana começou a escavar o tempo,
O terreno úmido,
E olhavas assustada ao redor,
Os olhos que a observavam a condenava:
Aqui jaz! Aqui jaz! Aqui jaz!
Joana cavava com unhas, com pá,
Com dentes, contundente e confusa,
Joana
Com a alma lambuzada de memórias,
Com o choro escorrendo a dentro
Aos sete palmos de profundidade.
— Aqui jaz!
Ela estava exausta.
Já não era mais jovem, a saudade aumentava
A cada unha exangue.
Avistou a tampa e viu o rosto sereno de Mário,
E contaminou-se com o odor que emanava
Do ser em estado de decomposição.
Joana abraçou o seu homem para sempre,
Igual a uma mãe depois do parto.
E o dia fez sol airoso, emprestando aos girassóis
A delicadeza de uma orquídea.
E os casais no extremo do íntimo se amaram,
Abraçaram-se, como se o amanhã fosse uma
Memória tardia do que se deve viver hoje.
aBel gOnçalves