Aqui no hospital

Aqui no hospital

Tem um corredor comprido

5° Andar do Hospital A. C. Camargo

Intenso movimento de profissionais de saúde

Buscando a tranquilidade dos pacientes

Agem com delicadeza

Com firmeza

Tem a turma do apoio

As arrumadeiras com a incumbência de nos tirar da cama para arrumá-las

Dá uma preguiça...

Tem as cozinheiras e as garçonetes 

Imagino que nos olham com a expectativa de como reagims aos seus deliciosos pratos

A turma da limpeza é bem rápida e eficaz

Me falaram que não gostam de ser identificadas como faxineiras

São com todo orgulho, Auxiliares de Serviços Hospitalares

Palavras podem mudar muito nossas relações

Tem umas meninas que chegam com muitos cuidados

Elas sabem que as dores são desestimulantes

Sabem também o quanto é bom ficar quietinho

Tem um certo constrangimento no olhar

Conhecem a dor

Tem consciência profissional

Trata-se das fisioterapeutas

Puxam pernas e abraços

Gostam de esticar os doentes

Eu prefiro andar

Tem uma turma que é só pra transportar a gente em macas

Vão conversando e contando histórias

As ascensoristas são atentas,

Pra cima, pra baixo, e assim é o dia inteiro.

Os médicos chegam um tanto sérios, mas sempre reagem bem a uma brincadeira

Perguntam um monte de coisas e dizem umas duas palavras pra explicar nossas queixas

Imagino suas preocupações

Nível de concentração

Tantos dados

Tantas variáveis

É estimulante também 

Sinto neles impotência diante da vida

Nem tudo eles podem

A natureza traça caminhos desconhecidos

Tristeza

Os olhos são o espelho da alma

Sair um pouco desse mundo

Conhecer histórias

Será essa uma outra chave?

A turma da enfermagem é ótima

Nos dão banhos

Aplicam injeções

Dão remédios

Aturam piadas sem graça

E até riem, coitadas

Tem cada sorriso lindo....

Nome, Nilson Edson Mesquita Rodrigues

Data do nascimento, 20 de agosto de 1957

A cada remédio repito isso

Agora sei muito bem meu nome é quando nasci

Impossível esquecer

Vejo amor por aqui

Circula nos corredores, nos quartos, na hora das dores

As vezes, vejo testas franzidas

Não gosto

Parecem me dizer coisas que não quero ouvir.

No centro de tudo

Há a missão de cuidar

De fazer levantar

De renunciar sua própria vida para salvar outras

Penso como será a vida desses homens e mulheres

Aqui, tem que nos passar segurança

Mas sei o quanto isso é difícil de conciliar com a rotina atribulada das grandes metrópoles

Estamos em São Paulo

Percebo às vezes, logo de manhã, mães preocupadas

Pais silenciosos parecendo distantes

Vejo tantas histórias no senho franzido

Lembro o quanto podem estar sofrendo enquanto sorriem para os pacientes e seus acompanhantes.

Na hora da dor eles me parecem frios

Mas é impressão minha

Estão muito concentrados

Cada movimento requer um esforço na busca dos conhecimentos adquiridos

Tento entrar nessas cabeças que me parecem, as vezes, mais sofridas do que seus próprios pacientes

São mães e pais preocupados com suas crias

Estão ali em busca de seus sonhos

Mas sabem o que representam para aquelas pessoas frágeis que chamam de pacientes

Quantos dramas vividos

Quantas lutas perdidas

Quanta esperança percebida nos olhos aflitos dos parentes

Tenho quatro parceiros importantes aqui,

Marcelo e Fernanda

Filhos amados que denominam, acompanhantes

Pra mim, amores,

Tem meus pensamentos

E uma parceira constante

A dor

Convivo bem com os quatro

São Personagens inesquecíveis

Há toda essa turma que cuida da gente

Então são cinco.

Quero na verdade estar bem com esses personagens

Me acompanham

Trabalham pela minha alegria

E vivem assim como eu

Buscando paz

E a felicidade