A GIRAFA
cega de um olho
a girafa entorta a cabeça
e nos observa com o outro, quase bom
no cubículo cheirando à couve e repolho
tal qual andrajosa condessa
conta os dias em cada mancha marrom
eu a observo em sua solidão
tão desassociada de si que poderia ser camundongo
ou rinoceronte
no cubículo com menos de três metros de chão
a girafa se beneficia do pescoço longo
e aprecia o horizonte
foi-se o circo, ficou a girafa
aquela a quem demos o cubículo
e emprestamos a compaixão
um homem para e fotografa
procurando graça no espetáculo ridículo
que lhe sacia a torpe visão