Monólogo da ausência
Eu te sinto ausente e tua ausência é mensurável
de modo tal que a possa absorver plena e perene
caso a efemeridade dela não se justificar mais
e deixar de ser ausência
e tornar-se a definitiva presença de saudades...
Qual é o nível de tua ausência? Como se mede?
Se ela é como vida ou morte
em que nunca se está meio vivo ou meio morto...
Pois que te sinto assim ausente de mim
e enceto contigo um diálogo de corredor de hospício
e sigo conversando com tua ausência.
Ela me responde em silêncio,
anuindo às vezes
com uma ausência ainda maior.
E digo minhas verdades entrecortadas pelo silêncio
em que imagino e mesmo ouço o que me respondes...
Tu me dizes que o tempo urge!
E sei que deves correr contra o teu tempo
numa batalha vã, de uma derrota prenunciada.
Também quero correr, mas de que adianta?
Ninguém vence o tempo.
O tempo é senhor de tudo.
E ele diz-me urgir a hora de agir.
A ação é escrava do tempo que a determina e a conduz ao seu modo.
Sinto que corres agora
tanto quanto sinto a tua ausência.
Mas o tempo é senhor de tudo
e nem sempre age a meu ou teu contento...
Mas é como é! – é o tempo...
E o tempo é senhor de tudo!
Só não é senhor de si próprio...
Porque até mesmo para si o tempo passa também.
Deste modo, agora eu converso com tua ausência
porque não há mais tempo para coisa alguma.
Só tempo para a ausência
em que te fazes tão presente em mim!