VAZIO ESCANCARADO
Tenho compaixão pelos vãos mornos,
pelas avalanches desgarradas,
pelos ecos descabelados.
Tenho compaixão pela dor esquecida,
pelos engasgos intrusos,
pela mão que não acenou.
Tenho compaixão pelas farsas aflitas,
pelos suores desregados,
pela felicidade que não cerzi.
Tenho compaixão pelos gritos encurralados,
pelas emoções mancas,
pelas pegadas reviradas pelo avesso,
Tenho compaixão pelas vitórias refugiadas,
pelas bênçãos embriagadas,
pelo fim que esqueceu de zarpar.
Tenho compaixão pelas conversas enferrujadas,
pelas ancoradas fora do tom,
pelo tesão abortado.
Tenho compaixão pelas verdades enrugadas,
pelo convés encardido,
pela saudade que caiu no bueiro.
Tenho compaixão pelo medo decapitado,
pelas horas desparafusadas,
pelas certezas que a enxurrada não levou.
Tenho compaixão pela certeza untada,
pelo chão que fica no adeus,
pela aflição que o banho-maria requentou.
Tenho compaixão pela rebarba que resistiu,
pela ferida que ressuscitou no aterro.
pelos erros que esqueceram a chave de casa.
Tenho compaixão pelos suores que fiz nascer,
pelos elos que não soube entreter,
pelo vazio que escancarou sem perdão.
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