A cirurgia
Um pensamento litúrgico
sobre o desconhecimento
do procedimento cirúrgico:
Pra que sentir cortar-me a carne viva?
O que senti?
Foi o talhe do bisturi?
Ainda não...
É apenas a dor...
Pra quê tanta urgência?
A dor faz parte da existência
e seja lá como for,
lamento recusar tanta assistência...
Eu rezo a todos os santos
e tremo...
Eu rezo ao ser supremo
e choro pelos cantos...
E imploro por algo que amorteça
o sentimento de vazio...
O medo...
O frio...
A dor de cabeça...
Estático!
O medo é profilático...
Eu temo a anestesia!
Eu temo o choque anafilático...
O medo é profilaxia...
Meu medo me vacina
e vaticina
um desastre automático:
Eu e a medicina!
Um desfecho dramático...
Quero fugir...
Mas chega uma enfermeira e me domina
e manda eu me despir...
Eu visto este avental
e tremo de pavor...
Imploro, choro e peço por favor...
Eu quero me evadir deste hospital...
O medo é tão normal... Quanta besteira...
São nove da manhã de sexta-feira...
Não quero a cirurgia...
Não me sinto tão mal...
Não é só medo, é rebeldia...
Eu volto de manhã, na quarta-feira,
depois do carnaval!