BERROS DE FANFARRÃ
Foi num rasgo
que minha alma virou montão de almas.
Cada uma com sua raiz,
seu permeio, sua razão,
sua arrebentação.
Punhado de almas
jogadas ao luar, sem freio
sem tramela,
sem bolor.
Almas cabisbaixas,
enfurnadas em si próprias,
espevitadas e submersas
no meu próprio suor.
Almas órfãs, arcadas num folguedo
que mal sabia dedilhar,
mas entendia dos vãos da compaixão.
Almas soturnas, brutas,
vadias sem vocação
emburradas até.
Sabiam eram crias, quem sabe arreios,
dos meus voos de camelô noiado.
aquelas plumagens desnudas
que fazia desafogar, desmembrar,
dissecando com abridor de latas
cada beco desmilinguido
dos meus corações.
Almas desacordadas,
desafiadas com gritos de guerra,
com pedaços de bocejos infantis.
Expulsas dos seus próprios pés,
abençoadas pelas traqueias do louvor,
pelos desconexos ursupadores
que ainda iria abraçar.
Minhas almas díspares,
tal tenores roucos driblando os reis,
fazendo o diabo com meus porões,
com meus escorregões.
As queria cativas, aprumadas num
cortejo de freiras corcundas,
num cortejo que deixaria o sol enervado,
envaidecido dos seus flocos de canela.
Entretia meus arvoredos com o fedor
combalido das bruacas virgens,
as mesmas que desfazia num amor
desavesso, esguichado, estraçalhado.
As queria possuídas num soco esquisito,
feito garças seduzindo o chão,
fosse ele o que fosse.
O que ainda iria esfacelar?
O que ainda teria que esmigalhar
com meus vilões?
Daí minhas almas se voltaram contra mim,
desmatando um motim cruel,
pedindo de resgate
a chave do meu coração,
se é que tinha chave alguma.
Resisti até onde pude,
numa hora liberei aaquelas amarras
para que minhas almas pudessem revoar.
Escapuliram fronteiras, sonhos pudim,
estranhos versos acéfalos que
nunca antes tinha embalsamado.
Mas algo incandescente,
robusto, de diabólico ardor,
se fazia vibrar dentro de mim.
Pois não é que reuni de novo
num gole só, numa veia só,
meus cordões de moleque
que tanto ungi, tanto sacudi.
Minhas almas, outrora desgarradas,
voltavam para casa como filhas arrependidas,
se rendendo aos fados remidos
dos meus soluços que, vai saber,
acordavam de uma vez só.
Agora não tinha mais nada a reverter,
nada mais a mergulhar, nem a retornar,
nem a fecundar.
Minhas almas se fizeram uma só,
absolutamente dissecadas,
como sempre as quis
e nunca tive.
Voltei a remendar meus olhos,
bagunçar meus cheiros num curtume,
desfiliar meus ódios.
meus leques de bruxo arrependido.
Voltei a ser meu esboço aquecido,
mais aguerrido, mais acetinado.
Minha alma só agora podia reinar
reluzir seus berros de fanfarrã,
estilhaços deserncardidos
da mais absoluta razão.
Virou crosta cigana,
terra seca, gosma cega,
convés farsante
que agora seria minha volta triunfal.
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