GOTEJANDO NUM MAR SEM FIM
Sinto meu tempo mais arretado,
como se lhe faltasse ar,
como se quisesse sorrir e só viesse dor.
Sinto meu tempo esquisito,
como um andarilho sem teto,
mal sabendo pra quem as estrelas bailam.
Sinto meu tempo rançoso,
como um verbo mal colocado na fila,
como um vento desanuviado que nunca sossega.
Sinto meu tempo bem assustado,
como as querelas destemidas da solidão,
como o atrelar sórdido do medo.
Sinto meu tempo feliz como nunca,
como se a vida encantasse a cada novo acorde,
como se o prazer escorresse pelos poros feito catarata.
Sinto meu tempo com cozimento pífio,
como as miçangas atônitas da fé,
como o espreguiçar avesso do perdão.
Sinto meu tempo desprendendo seus voos,
como os engasgos brutos do desejo,
como as vozes fétidas da vingança.
Sinto meu tempo esfarelado como o desdém,
como as fronhas encurvadas do querer-bem.
Sinto meu tempo combalido como as ancas da paixão,
como o leque aflito da bonança.
Sinto meu tempo encharcado de cheiros adversos,
como o vão matreiro da saudade,
como o estopim exitante do sorrir.
Sinto meu tempo atracado numa paz tibetana,
como se a calmaria gotejasse num mar sem fim.
como se os homens virassem monges, todos eles.
Sinto meu tempo destelhado de réstias falidas,
como o semear inflamado do amor.
como o útero agrestado da desilusão.
Sinto meu tempo mais amansado,
como o galope alucinado da morte,
como o verso maltrapilho da experiência.
Sinto meu tempo mais estalado,
como as poças traiçoeiras da amizade,
como a deriva entorpecida da certeza.
Sinto meu tempo mais circense,
como o desnudar revirado da lucidez,
como o reluzir trêmulo da aflição.
Sinto meu tempo mais dissecado,
como o sangue tresloucado da compaixão,
como o viés desarrumado do nosso fim.
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