OS VÃOS DA MINHA ALMA
Encontrei vários vãos na minha alma
que nunca pensei tocar um dia.
São becos sombrios que sempre evitei visitar,
desviando deles quaisquer sonhos que pousassem em mim.
São vãos que sempre se mantiveram calados,
inertes, meios mortos diria.
Jaziam lá como guardiões das minhas estrepolias,
nunca arrendando pé do seu picadeiro,
nunca mesmo.
Meus vãos por vezes se faziam esguios,
viraram lépidos folguedos pulando de toca em toca,
sem nunca deixar escapulir nenhum fôlego.
Falo dos meus vãos com certo desdém,
com certo medo até,
porque descortinam meus deslizes,
minhas farsas rasuradas,
fazendo com que se postem desnudos,
desarmados, desmamados.
Meus vãos da alma vivem desgarrados de mim,
seguem arredios aos carinhos, às fungadas,
aos temperos, aos remendos,
aos poréns.
São pedaços de mim que vou untando,
um a um, com lambidas faceiras,
por vezes flácidas,
deixando suas pétalas arreganhar,
arrebatando para si todo suor que gotejar
dos meus passos.
Serão nestes vãos, um tanto encardidos
e esgarçados,
que repousarei quando meus dias desistirem
de bailar, de inseminar, de aglutinar vidas.
E assim ficarei para todo o meu sempre,
sempre.
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