A Estante no Banheiro
Não consigo arrumar minha estante.
Por mais que seja preciso, há algo
que diretamente impede-me.
Há algo obscuro que não permite.
Um motivo quase nulo, obstante:
O escudo invisível que ela emite;
um impedimento constante.
Tanto além de tal motivo, o fardo
da incapacidade compele-me.
Preciso arrumar minha estante,
mas não consigo. Não consigo.
O fim de minha cabeça não diz;
As paredes não falam, nenhuma;
As meias não sussurram nada.
Nem uma pista em vistas.
Se alguém explicasse o que fiz
para que a estante ficasse assim...
Nela, uma incerteza fechada reside:
Repele-me, a todo e qualquer instante.
Não consigo arrumar-lhe, estante.
Expresso, reajo, tento: os motivos
de querer vencer o fardo intrigam.
Expresso, reajo, penso: os motivos
não me são claros e assim, insisto.
Não consigo acessar-lhe, estante.
Não falta muito para o fim,
uns oito ou doze por cento
e, bem, isso não mais faria
parte de mim. Entretanto,
existem esses oito ou doze
por cento e, bem, não são
tão fáceis de se encarar assim.
O motivo quisto possivelmente
deve estar preso no sujeito elíptico.
O motivo quisto possivelmente
estará preso no cerne do próprio fim.
Se não estiver, logo menos, desisto.
Ao menos sei que: arrumar minha
estante, não consigo. Ao
menos
isso.