Efeméride
Meio-dia de uma manhã vencida.
Um sinal de devoção sela o período.
As convenções propostas pela barra de tarefas
Divergem dos graus da efeméride.
O toque do sino na capela anuncia a tarde
E ela vem
Na incerteza das calmarias,
Na segurança das intempéries.
O prenúncio prandial projeta o paladar
Aguça o olfato
Uma profusão de aromas.
Cálidos vapores temperados
Sais e minerais estabilizados
Num fervilhar de proteínas, amidos e letras.
As palavras borrifadas no embrião do dia
Frases borradas em teor calórico
Uma hipérbole de açúcares sobre o repasto
Doce elisão de sabores e gostos.
No refazer das forças, não há luxo de sesta
De sexta a sexta, no sexto andar
A cesta básica, o cesto de roupas sujas:
Lavar, secar, passar...
Na órbita de retorno dos deveres
Vésper, em céu aberto, às ocultas,
anseia pelo ocaso, para também ser
instante de sol
Mas somente consegue cintilar
o peso das coisas adiadas.
São vidraças embaçadas por reticências
Ladrilhos foscos de recordações
Estantes repletas de poeira e projetos.
E assim, ao cair da noite
Sob o travo da ceia
No recesso dos afazeres,
recosta seus ossos
em lençóis surrados, feito seus músculos
e descerra em sonhos o repouso
em meio aos versos axiomáticos
de uma melodia:
"...E lá se vai mais um dia... "
Um dos poemas vencedores do XI Concurso de Poesias da Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ - 2011, e do II Concurso de Poesia Amigos do Livro da V Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas - Flipoços - 2011.