Noite de chuva

noite de chuva

o vento passa por entre o punhal esconso

no escuro mais profundo do mundo

e a noite manchada e farta de si

onde dorme teu sono que

arrasta estrelas enternecidas entre os teus dedos

arrasta a lua, os astros, um deus do medo

o céu de infrangíveis segredos

arrasta a cor da pétala flor

e a palavra inocultável

como a dor

de nascer e viver morrendo

noite de chuva

as sombras dessentidas

geram a madrugada

no espaço fecundado pela sombra

inoculável

como a melancolia

de morrer e nascer todo dia

noite de chuva

esta chuva que persiste talhada

ressumando a lágrima que demora

seca em teu rosto

enquanto teus passos te levam nua

pelos caminhos dos rios,

intocáveis

e incognoscíveis

como a pretensa palavra

que define o engodo do que seja a morte e a vida

noite de chuva

que amadurece o inverno

e prenuncia na chuva que ora cai

mais uma outra primavera

e burila no enigma do barro

o esboço

de uma lua crescente

em uma pequena noite,

jogo de cintilação e de espelhos,

suspensa nos astros

indecifrável

como a angústia do bem e do mal

e a panacéia da morte para a vida de medos

que se vive afinal