Busco versos

busco versos onde só há ausência e delírio

versos que se espreitam e se acabam

no colear das noites longas e contemplativas

versos esconsos que se desatam e em ânsias se elidem

antes que eu possa ouvir o grito latente

premente na boca da vida e da morte

versos silentes

endógenos

onde repousa a impostura dos sonhos

onde repousam segredos

medos

melodias

segredos inescrutáveis

minuciosos medos

momentos de uma densa tristeza

momentos de uma fascinante beleza

momentos de asfixiante loucura

impenetráveis eternidades

perfumes de ontem ao vento

solidão

onde repousa a essência do que sou

alma e memória do que tantas vezes já fui

recrudescendo em séculos atemporais

quando nas noites trepidantes e intempestivas

se escuta um soluço antigo e diluído

antes da lágrima indizível e sem voz

que o tempo possante e incriado

abandonou em meus olhos

deixando-me entre gestos silentes, a sós