Tudo é ausência

tremeluz na noite o oscilar

lento e enganoso do tempo

o sonho dorme enquanto a noite espera

meus lábios bebem o destino

porém não pronunciam o teu nome

teu nome sonha enquanto a noite espera

o silêncio ilumina a noite

e arde na espera escura e clandestina

pelo incessante Eco escondido nas neblinas dos séculos

o vento levita e vela a mancha quieta e negra do céu imoto

e sopra estrelinhas que caem

riscando lembranças de mundos que vão na alma

folhas balouçam das árvores

e falam de sombras inapagáveis

soluços incomensuráveis

é primavera

nas folhas sanguíneas da rosa

nas fontes e seus chorosos caminhos

na angústia incognoscível e dolorosa de existir

a noite é espera

a noite é quimera

a noite é sombra silenciosa dos sentidos

a noite é estes muros inacabados de solidão

a brisa esvoaça e traz no ventre do mar

a agonia das terras das ilhas desgarradas

ato e destino

memórias acalentadas pelo ruflar das asas das aves noturnas

pela noite feito os gretados caminhos dos ventos

vigília e eternidade

sonolentos e indistintos rumores de fontes

compassos da aragem sussurrando

por entre ternuras e lírios

entre cansaços e exaustão

a vida se desvela, incidente,

como em tantas outras noites

como em tantas outras épocas

não obstante

para o homem sem verve

sem esperança que o leve

os olhos postos no chão

de quem já não pode chorar

tudo é ausência