Poeta e Gladiador
(Para Gerson Santiago)
Relembro às vezes
Teu olhar tão puro
E as marcas no rosto
De um mundo tão duro
Quando é que foi
Que tudo começou?
Relembro às vezes
Os degraus do Nada
Esse estranho mapa
De um porão escuro
Quem foi, Irmão,
Que te entregou?
Às vezes choro
Por não entender
Mas sei que isso
Não tem sentido
Quem parte assim
Não vai reviver
Às vezes grito
Clamo e peço dó
Mas o que é preciso
É lutar sem trégua
Para um mundo cada
Cada vez melhor
Relembro às vezes
Quixote sem Sancho
Medíocre mundo
Para um desejo ancho
Suas mãos de poeta
E gladiador
Hoje te entendo
Pois também eu juro
Tanta vez a vida
Me encostou no muro
Eu também pensei
É, eu também pensei
Mas por sorte ou sina
Desviei-me a tempo
E quis só brigar
Pelo contentamento
Meu, dos outros
Pelo mundo melhor
(Brasília, DF, 1985)