Migrante
Escrito no ano de 1990


Da cana nasce o açúcar
Da terra a árvore que sem piedade tu cortaste
No fogo a carne a queimar

De Deus o amor que tu mataste
Da paixão sonho que tu ignoraste
Amor o artista a cantar
Sede terrível angustia no olhar...

Da miséria a fome, tormento maior.
De quem parte a saudade...
Deus e o diabo ideias antagônicas

No asfalto o ronco do motor
A bala perdida, o corpo no chão.
Procrastina-se a bondade do homem

Do nordestino a canção...
Braços fortes cacimba a perfurar
Da seca tangeu menino...
E espigões aos ricos ergueu, construiu

Da vida levou pancada,
Saiu de mansinho.
Deixou a feira sabe lá para quem

Atravessou a ponte
Estatelou-se no chão.
Não morreu e no espaço tu alma ainda campeia...