No resto da razão (I)
Ninguém me ouviu dizer teu nome em vão;
ninguém ao coração me perguntou
se dentro em mim um resto de razão
me leva da ilusão que me restou.
Ninguém me viu chorar! Eu te prometo
que tua ausência em mim só eu senti
e ao te perpetuar em meus sonetos
eu tento ainda viver, longe de ti...
Amei – sempre te amei – em meu segredo
assim como, liberta, tu me amavas;
mas tu, amor, partiste! Foste cedo...
não vi que a tua vida abandonavas!
A musa verdadeira de meus dias
serás; e sei que um dia outros amores
lerão, sem compreender as poesias
do teu jardim de sonhos e de flores!
Depois que tu partiste, minha amada
eu vivo dividindo a minha vida
como se fosse a tua, retirada;
a parte que jamais foi devolvida!
Queimei hoje meus versos que te fiz
porque se um outro alguém um dia os lesse
diria que jamais eu fui feliz
se o tempo de nós dois não compreendesse!
Se um dia, quando não houver mais terra,
puderes tu nascer, vires de novo,
eu hei de te encontrar longe da “guerra”
também eu poderei “nascer de novo”!
Ninguém vai violar nossos segredos;
a história desta vida, de nós dois
chegou ao fim terrivelmente cedo:
ficaste sem presente – eu, sem depois!
É justo que tu partas deste mundo
a um mundo tão distante deste meu
e deixe este meu amor profundo
sem mesmo uma palavra, sem adeus?
No resto da razão sei que partiste...
ganhaste o céu, eu sei, mas quem me dera
não ter que percorrer a terra, triste,
eternamente teu, à tua espera...