No resto da razão (I)

Ninguém me ouviu dizer teu nome em vão;

ninguém ao coração me perguntou

se dentro em mim um resto de razão

me leva da ilusão que me restou.

Ninguém me viu chorar! Eu te prometo

que tua ausência em mim só eu senti

e ao te perpetuar em meus sonetos

eu tento ainda viver, longe de ti...

Amei – sempre te amei – em meu segredo

assim como, liberta, tu me amavas;

mas tu, amor, partiste! Foste cedo...

não vi que a tua vida abandonavas!

A musa verdadeira de meus dias

serás; e sei que um dia outros amores

lerão, sem compreender as poesias

do teu jardim de sonhos e de flores!

Depois que tu partiste, minha amada

eu vivo dividindo a minha vida

como se fosse a tua, retirada;

a parte que jamais foi devolvida!

Queimei hoje meus versos que te fiz

porque se um outro alguém um dia os lesse

diria que jamais eu fui feliz

se o tempo de nós dois não compreendesse!

Se um dia, quando não houver mais terra,

puderes tu nascer, vires de novo,

eu hei de te encontrar longe da “guerra”

também eu poderei “nascer de novo”!

Ninguém vai violar nossos segredos;

a história desta vida, de nós dois

chegou ao fim terrivelmente cedo:

ficaste sem presente – eu, sem depois!

É justo que tu partas deste mundo

a um mundo tão distante deste meu

e deixe este meu amor profundo

sem mesmo uma palavra, sem adeus?

No resto da razão sei que partiste...

ganhaste o céu, eu sei, mas quem me dera

não ter que percorrer a terra, triste,

eternamente teu, à tua espera...

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 20/10/2005
Código do texto: T61314