amava

o corpo que carrega

tudo, inclusive teu

nome numa parede

de quarto, tua xicara

de chá sobre a penteadeira,

esse mesmo espaço

onde escrevo esse poema

teu corpo já houve, já

esteve onde agora jaz

um cataclisma, a fruta

madura servida no café,

tua mordida de dente e vontade,

e teu perfume indecente

de quem havia engolido

todo o sonho de juventude,

e eu ali, perto, fazendo outro

poema onde as ruas eram

traficadas e a luz batia em

minha porta, e de tão farto

eu não abria, vozes e dançarinas

impertinentes no fundo do quadro,

não imaginava o quanto de pobreza

de outros planos, nem agonia da

casa ao lado, do sono profundo que

a vida nos impoe, nada disso eu

sabia, mas te amava como o sol

a plantação, como o céu as estrelas,