Coração Valente

Lá pela meia noite/

Quando o sono se fazia firme/

Meu coração travou/

Acordei estonteado/

Com um barulho ensurdecedor/

Quando me dei conta da hora/

O barulho metralhou/

Eram tiros/

Que tiravam muitos do seu coberto/

Alguém morreu diziam uns poucos/

Alguém matou gritava o parente/

Como antigamente/

Apesar da violência diária/

Muita gente como curioso/

Correu pra velar a dor/

Pra identificar o corpo/

Pra numa boca só ter o que falar/

Uns diziam que o morto era malfeitor/

Outros falavam dos executores/

Ninguém sabia de nada/

Só o galo cantava e a sirene tardia da policia/

Que chegava pra fazer de conta/

O único culpado foi julgado, sentenciado e executado/

E segue a semana como se o normal/

Era o procedimento/

Nem sociedade ou parlamento/

Cada um no seu pensamento/

E o povo caminha como alvo/

Cujo erro/

Pecado eterno ainda é a ignorância/

O que dizer da Democracia/

Se a liberdade/

Se a igualdade/

É apenas memória de um cárcere/

A praça é de guerra/

Onde o povo geme/

Vendo no horizonte apenas o azul/

Mas acreditando, que amanhã será diferente/

Posso, enfim, concordar/

Pois o próximo da lista será ele/

Ou quem sabe eu/

Por atinar contra a ilicitude/

Contra a arbitrariedade/

Contra a corrupção e a impunidade/