O POEMA
Rascunho perfeito
de um sentimento confuso
de uma dor sem razão
de uma estranha alegria
de um sonho embaçado
de uma voz abafada
Balbuciar nítido
da ânsia de ser tudo
onde ser pouco é a regra
da esperança intuída
onde o agora é que reina
O poema
nasce assim
perfeito em sua descrição
de algo que urra no poeta
mas que esconde sua face
e nega à poetisa
o perfil de sua identidade
deixando o coração poético
aflito em expulsar de si
o que lhe dói nas batidas
e envenena o sangue
O poema
imperfeito como nasce
é tudo o que se pode dizer
da imprecisa imagem que temos
daquilo que se move em nós
e, quase sempre,
nos deixa sem palavras