Mal-estar (1,3)
O que me atormenta
Não são as noites escuras,
Os dias em claro e
Tampouco o latejo do trovão.
O que me atormenta
Não é uma mão sem perspectiva,
A boca seca,
Tampouco o corpo sem excitação.
Dos passos perambulados
Só um me consome em sonhos desvairados
Me tira o sossego,
Me trava no sono funesto d’um morcego
Dos passos perambulados
Só um me consome em medos
Me tira a calmaria,
Me empaca na romaria
Foste tu minha tormenta,
Permaneceste muda, nada te apoquenta.
Enquanto eu chorava com os olhos estridentes
Você escancarava sua boca cheia de dentes.
Foste tu meu errante caminho,
Continuaste pedra, nada te movia desse teu mundinho.
Enquanto eu jorrava feito rio
Você encravava com a proeza d’um espinho.