Geografia dos eternos novos mortos camponeses

Geografia dos eternos novos mortos camponeses

Na data de 24 de maio de 2017,

em Pau D'Arco, no sudeste do Pará,

foram mortos dez sem-terras camponeses...

13 policiais responsabilizados pela chacina

ficaram presos por menos de 3 meses.

Em 08 de agosto os acusados foram soltos

por uma justiça atrofiada

atada ao latifúndio roto...

No dia 06 de agosto do mesmo ano,

como se fora um episódio continuando,

06 outros camponeses descendentes de escravos

levaram chumbo, foram mortos a bala

no território quilombola de Iúna,

situado no estado Bahia,

na tão afamada Chapada Diamantina...

Todavia, desconversando e destilando rotineira estupidez,

muitas notícias dadas, publicadas nos jornais

determinaram que as mortes dos camponeses

não representavam a luta armada pela terra,

mas que, antes, simplesmente eram

nada mais do que somente brigas banais...

Mas não!

As mortes encomendadas são uma guerra escancarada

em que fazendeiros e seus jagunços

escarafuncham muitas formas de exteminar e calar de uma vez

quilombolas, índios, sem-terras e camponeses.

Eis a forma pelos fazendeiros achada de dominar, controlar e lucrar

com as terras griladas, tomadas, roubadas

dos assentados ou posseiros camponeses...

E assim afloram os novos Eldorados de Carajás

que, ressuscitados, vêm reafirmar, de vez em vez,

o triste lugar do 17 de abril de 1996,

no episódio ocorrido no Pará,

quando 19 sem-terras camponeses

foram assassinados, todos de uma só vez...

E é assim que o latifúndio e seus jagunços

escancaram a fundo a renovada estupidez

de nossa eterna-hodierna questão agrária

que, por mil formas sorrateiras e hostis,

ainda espalham agressões, mortes e caixões

por tantas voltas dos mais diversos brasis.

De uma forma que se torna zombeteira

o espaço agrário ressuscita todo dia

todo um inferno que, desde os tempos primeiros,

se reedita como uma geografia maldita

dos sempre eternos novos mortos camponeses

se colocando como o foco mais candente

da tão doente questão agrária brasileira...

(Luiz Carlos Flávio)