Um verso ao inverso
Paro e penso.
Sinto-me propenso
a escrever um verso
sem razão ou consenso...
Um Universo reverso.
Mas meu verso desejo
com tudo que eu vejo,
que eu ouço e que eu falo;
com tudo que penso
em meio ao silêncio
de quando me calo!
Defendo-me da rima
que me vence
embaixo ou em cima;
ela que se exprima
e deixe que eu pense!
Paro e penso.
O papel é extenso
e a rima se estende,
estica-se e se alarga;
porém, volto à carga
e ela me entende...
Penso escrever um verso...
Mas o assunto é diverso
e se ramifica ao passo
que no papel me desfaço
de todo o meu universo.
Paro e penso;
o papel é extenso...
Um verso não imerso
no silêncio culto e prático
de um pensamento estático
de sentimentos, vazio;
de um ser alienado e frio...
Que meu verso remexa
no que a verdade esconde
e no que a mentira deixa
já não se sabe mais onde.
Paro e penso...
Já não tenho o bom senso
de criar com cuidado
um verso sem contra-senso,
um verso bem-humorado.
Defendo-me da forma
que me supera
e apenas espera
criar outra norma
para engolir a fera
que é o meu verso;
o verso não escrito,
abençoado ou maldito
por todo o Universo!
Um verso que não escrevo
por não senti-lo...
E sendo assim, não me atrevo!