ABANDONO
Outrora
cortava as águas
mar adentro
Vistoso, impetuoso, enfrentava o mar bravio
com galhardia
Tinha nome pomposo
AVANTE
Hoje
fundeado no porto
jaz
abandonado
Seu mastro, antes altaneiro
ali , quebrado , apodrecido
O vento
seu único visitante
varre
de tempos em tempos
os restos de madeira do convés
Parece um fóssil marinho
plantado na flor d'água
a espera de nada
Faz parte de uma paisagem que ninguém
ver
Uma carcaça
de um tempo sem voltas
que range
por qualquer marola
como lamentos
que não mais se escuta
O seu apito dizia
Avante, Avante, vamos desbravar
os mares do mundo
Ficou apenas na memória
dos que já morreram