IMAGINE NO PLANALTO.

Imagine um matuto engravatado

Sorridente mostrando a estampa

Caminhando faceiro sobre a rampa

Do planalto onde lá foi empossado

Ao redor tudo quanto é deputado

Se mostrando dele ser seus defensores

E uma corja bem maior de senadores

Cada um com um plano mas ardido

E o matuto nem ai para partido

Mas fiel a cada um dos eleitores.

Pense bem, sobre ele uma faixa

Com o nome bem feito e reluzente

Sobre o peito o nome de presidente

Feito em letras douradas em alta caixa

O orgulho a ele não se encaixa

Nem tão pouco se daria a sedução

Seu discurso seria um trovão

No ouvido do povo nordestino

E a política teria outro destino

sobre o mando de um cabra do sertão.

Imagine um país livre o ordeiro

Sem faltar a água e a comida

Com escola certa e garantida

E saúde para o povo brasileiro

Em Brasília uma estatua de um vaqueiro

Como símbolo da força da nação

Ao invés de gravata um gibão

Pois o couro é a pele desse povo

Ai sim se teria um Brasil novo

E liberto de toda corrupção.

Com certeza esses tais legisladores

Não seriam por ele apoiados

Secariam como ervas no cercados

E pisados pelos pés dos lavradores

A terra seria dos agricultores

Com direito ao adubo e a semente

Só assim se viria um presidente

Cabra macho comandando a esplanada

Sem caneta, mas de mão calejada

Se mostrando um matuto competente.

Imagine um país ser governado

Sem ter medo de andar sobre seu chão

Com a certeza que estaria na prisão

Traficante, homicida e deputado

Todo pobre teria o seu roçado

Pra plantar e servir de alimento

Se ouviria aboiar no parlamento

Um matuto rimando uma emenda

E Brasília passaria a ser fazenda

Sendo assim findaria o sofrimento.

Não sei o que seria a classe rica

Se a pobre fosse a força do país

Com certeza enfrentaria os imbecis

Dando a eles a seguinte dica:

Quem se eleva esse é quem menor fica

Foi assim com o próprio Lampião

Que reinou muitos anos no sertão

Mas um dia foi morto e degolado

Assim seria com qualquer cabra safado

Que quisesse embrulhar nossa nação.

O Brasil com um matuto presidente

A balança teria outra postura

Exportando toda nossa tanajura

E agrotóxico sumiria de repente

Rapadura, farinha e aguardente

Seriam patrimônio nacional

E o jegue o trasporte oficial

De ministros diplomatas e relatores

E a enxada para as mãos dos impostores

Sem prestigio ou direito especial.

Imagine o matuto discursando

Para o rádio, jornal e a televisão

Com o sotaque genuíno do sertão

E a mídia do mundo lhe filmando

O cerrado estaria faiscando

Com as brasas de um cabra varonil

E a pátria estaria a mais de mil,

Galopando sobre o lombo do progresso

E o discurso seria todo em verso

De improviso para o povo do Brasil.

O matuto daria ao Nordeste

Tudo quanto já lhe foi negado

Passaria a borracha no passado

E faria outra história que se preste

O sertão, o litoral e o agreste

Passariam a ser o mesmo curral

O imposto era dado por igual

Mediante a justiça e a lei

O nordeste desta vez teria um rei

Destemido pé no chão e genial.

A cultura seria reconhecida

Pela arte inspirada dessa gente

O cordel, o poeta e o repente

Estariam estampados na avenida

A bravura do Nordeste ia ser lida

Por crianças educadas nas escolas

O artista romperia a s argolas

Do sistema que só pensa em dinheiro

Só assim o Nordeste brasileiro

Mostraria que não vive de esmola.

Imagine então a culinária

Bem servida em finos restaurantes

Com os chefes exigentes e importantes

Dando a ela fama extraordinária

A lagosta se tornaria segundaria

Mediante ao um bom bode assado

E o caldo curtido de um guisado

Seria o que chamam de entrada

E o prato principal sendo a buchada

Tava pronto um jantar sofisticado.

Um governo assim amatutado

Sem vexame, disposto inventaria

Para o povo uma nova academia

Consagrando de vez o seu legado

Escritor e poeta indicado

Marcaria de vez a sua vaga

O imortal contaria sua saga

E sua obra não teria abandono

E por fim com certeza o patrono

Era o rei do baião Luiz Gonzaga.

A sanfona tocaria em concertos

De teatros e lugares refinados

E um balé caprichado de xaxados

Deixaria esses críticos satisfeitos

A cultura seguiria sem defeitos

Com a musica nascida dos carinhos

Dos artistas que abriram os caminhos

Que ate hoje todos nordestinos ouvem

Me perdoem mas,nem Bach e nem Beethoven

É melhor para nos que Dominguinhos.

Imagine um matuto invocado

Assentado na mesa do presidente

Convocando um ministro e um suplente

Pra cuidar da saúde com cuidado

Dando ao povo o que nunca lhe foi dado

Esperança e médico a dispor

Parteira, raizeiro e benzedor

Medicina estudada e popular

O importante e é ter gente pra curar

As doenças desse povo sofredor.

Eu não sei como é no resto do mundo

Mas aqui o meu mundo não é resto

Ainda tem muito nordestino honesto

Que não tem o currículo imundo

Se fosse, o meu sonho num segundo

Se tornaria de fato em pesadelo

Mas o Nordeste não é o desmantelo

Que alguns opinam sem razão

Sendo assim continuo o sonho então

Pra mostrar que me orgulho em tê-lo.

Imagine as estardas asfaltadas

Sem buracos que quebram nossos carros

As rodagens sem lamas e sem barros

E os veículos livres das viradas

Todas placas bem limpas e pintadas

Indicando o certo e o errado

O matuto ia ser condecorado

Pelos feitos cometidos no seu pleito

E o bolso ficaria satisfeito

Com o pedágio sendo coisa do passado.

Pode vê onde tem um cabra honesto

Tem ali a cultura do valente

Que campeia e lança a semente

Em um solo que nunca deixa resto

Apesar de sofrer forte protesto

Dos ladinos que não foram empossados

Não aceitam que foram separados

Pelo o abismo do brio e da moral

Ameaçam caluniam e falam mal

Porque foram pelo voto castigados.

Feche o olho e veja em sua mente

Uma fogueira no terreiro da nação

Ao redor um povo dando a mão

Como forma de unir-se novamente

Sinta agora o que essa gente sente

E experimente o calor da alegria

Pois sonhar não e feito utopia

Que se vai em tontos devaneios

O Nordeste rompe em fé e sem receios

Conquistando todo sonho que queria.

Imagine pois tô quase acabando

Não o sonho vou ser sempre sonhador

Vejo a vida pelo olho provedor

E desejo tudo que tá me faltando

Também sou um matuto caminhando

Pelas nuvens do sertão da igualdade

O meu voto é a fé e a lealdade

Que o Nordeste alavanca o seu povo

O matuto há de ter um Brasil novo

E o povo há de ter a liberdade.

Vamos deixar aqui nosso matuto

Descansando na rede sossegado

Pois não é dele este legado

De viver no mundo do astuto

Neste mundo de pária e corruto

Não habita este homem inocente

Não há nele a malícia indecente

Apesar de sofrer sem ser culpado

Mas brincar de matuto empossado

Só assim em verso ou em repente.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 25/06/2017
Código do texto: T6037119
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