MULHER
Eu não sou essa senhora quieta
que assiste a vida passar;
sou vulcão, sou lava acesa,
sou grito na escuridão.
Sou corpo rolando na cama,
sou uma floresta em chama,
sou raiva, revolução.
Não sou essa conformada mulher
que escuta e não diz nada.
Não sou freio, sou arranque;
não reduzo, acelero.
Não sou o “não sei”, sou o “quero”.
Não sou defesa, sou luta;
não sou paz, sou ataque.
Não sei o que levou
a ficar quieta e calada,
essa mulher mal amada.
Não sei qual foi o momento
que a tornou tão parada.
Não sei o que deve fazer
pra sair da letargia.
Por fora: comportamento,
por dentro: alucinação;
por fora: água parada;
por dentro: um turbilhão.
Se briga, se grita, se clama,
é só de noite e consigo.
Passa a noite e vem o dia
e continua tão quieta:
Acorda, revive, desperta,
mulher de tantas idades!
É nosso esse mundo insano,
é nossa essa sociedade!