O retrato de meu pai
Logo que meu pai morreu,
Chamei o Irrazabal.
Dei-lhe um retrato do velho,
Que se fora não tão velho.
- Replique, pintor, em quadro grande,
Este sorriso de quem sorri de estar sorrindo.
Irrazabal trouxe-me a encomenda.
- Perfeito, meu pintor!
A imagem grande, que nem de artista,
Foi ser destaque na sala de visitas.
Todo mundo que vinha,
Era apresentado ao meu pai.
Ele que em vida fora discreto,
Distante de homenagens
E de maiores efusões nos encontros.
Comecei a achar que o quadro o contradizia.
Tio José veio visitar-me.
Olhou meu pai e chorou copiosamente.
Tio Vino também veio
E verteu muitas lágrimas.
Era o que faltava.
Despromovi meu pai.
Levei-o para uma parede discreta,
Onde eu posso saboreá-lo
Na rotina e na saudade.
Meu pai não se exibe mais,
Meu pai já não faz ninguém chorar.