NA CALÇADA
Na ladeira lá da rua
Uma lágrima escorreu
Sobre a calçada nua
No claro branco da lua
Molhada com o pranto teu.
Nos sonhos dos desenganos
Tu dormes bem conformada
Dentro de teus oceanos
Marinheiros insanos
Atracam rente a calçada.
Crisântemos lírios e gardênias
Exalam de madrugada
Um cheiro que só as fêmeas
Trazem em suas frutas gêmeas
Ao sentarem na calçada.
No céu de um azul infindo
Vê-se uma tela pintada
Com o paraíso explodindo
E as virgens todas caindo
Como flores na calçada.
É noite brilham os astros
Na tua face dourada
E as luzes deixam um rastro
No teu corpo de alabastro
Enfeitando a calçada.
Andando em cor lilás
Com sianinha bordada
Os teu pecados fugas
São como neons de gaz
Sobre o vão da calçada.
Vou embora meu amor
Te deixo a noite ofertada
Sem beijar a tua flor
Sem sentir o teu sabor
No chão da minha calçada.
Mas vai comigo a esperança
Na minha alma plantada
A desejar com pujança
Ser minha tua aliança
Ser eu a tua calçada.