O URUBU E A FAMA

Um dia foi o urubu

A mais bela ave a reinar

No alvo céu dos deuses.

Seletos grãos, boas frutas,

Só coisas frescas o urubu comia.

Todos os seres voantes

Desejavam ter semelhante

Potestade, majestade e glória.

O urubu embebido

Em vaidade queria

A cada dia estar coroado

Em declarada evidência

Uma tendência que em tragédia acabou.

Quanto mais cheia de fama a barriga

Do urubu ficava maior era o vazio

Que a ela assolava, era uma fome contrária.

No ápice da cegueira orgulhosa, disse:

“Belo sou sobre todos os seres incluindo os deuses!”

Ao escutarem tal sandice

Os deuses, até então, indiferentes

Condenaram o urubu a feiura capital.

O lustro negro de suas asas

Passou a ser arauto de morte e pavor

Perdeu todo o gracejo para ser carniceiro

E se arrependeu amargamente

Da nova fama que ganhou.