A Atriz
Essa mulher no palco, olhar de eterna inconstância
Alterna dias de intempérie e noites mansas
O cansaço tenta impedi-la, mas não alcança essa mulher-criança
Pois ela retira da vida sua seiva, sumo e fragrância
Ela quer conquistar o mundo até a hora do almoço
A fruta da estação ela saboreia até o caroço
Prefere o nada a ter somente um pouco
Pois é melhor perder tudo a receber um troco.
Ela é só coração que lhe lateja no pulso
Ela não quer a razão, mas sim os impulsos
Ela ama o que lhe parece ser bom e justo
Ao casar com o drama aceitou o susto
As pessoas perguntam como se pode ser assim
Querem saber se essa ânsia de viver é ruim
Mas ela é atriz, esquiva-se e se recolhe ao camarim
Seca uma lágrima que escapa, volta e segue até o fim.