A Fernando Pessoa
Me comove ver escritos por outras pessoas, todos os sentimentos que experimento e tento, recursivamente, organizar dentro de mim, na tentativa frustrante de escrevê-los. Como pode?... São meus sentimentos e outros, que nem ousaram saber da minha existência, saem por aí, a expor minhas mais recônditas angústias, alegrias, dúvidas, esperanças... Não é possível que estivessem falando de si mesmos! Falavam de mim. Sim, falavam de mim! Ou, melhor, falavam por mim, choravam por mim, riam por mim, sofriam por mim. E ainda assim tantos sentires me sobraram, que creio haver uma inesgotável fonte de sentimentos, que nunca cessará, e sempre haverá alguém que, inadvertidamente, beberá dela, e entrará neste mundo de sensações que não pode ser descrito, mas sim, apenas sentido e vivido. Resta a mim, a repetida tarefa de dizer, dizer, e dizer o que sinto através das palavras que leio. Palavras de outras pessoas. Sim! Outras pessoas que ousaram escrever os meus sentimentos sem que eu as autorizasse para que, a posteriori, eu lesse e indagasse silenciosamente: “quando eu escrevi isso?”. Palavras dessas outras pessoas que um dia, antes de mim, ousaram beber dessa fonte e por ela foram também tragadas, mas deixaram para mim, ecos de seus sentires, como uma prova da comunhão que paira sobre toda a humanidade, mas que apenas alguns poucos podem identificá-la.
Agradeço a todos por traduzirem aquilo que um dia eu sentiria e, muitas vezes, não entenderia em mim mesma.