uma tentativa de falar de nada

Falar que o nada existe não é possível, porque o nada, não é, e se ele não é, não posso trata-lo como um objeto, uma coisa, ou seja, o tratamento lógico não pode ser dispensado a ele. A linguagem tem uma estrutura dual, qualquer coisa que se diz, se diz de algo, assim o nada não pode ser dito, e se não pode ser dito, é possivel pensar que ele não existe, uma vez que noção mais difundida que o existir está relacionado com o dizer, aquilo que não pode ser dito, não pode ser. Como foi dito, o nada não é, portanto, não é um ser, e se não é um ser não pode ser disposto no tempo, de modo que o pensamento não lhe estrutura em termos de categoria. Dizer que alguém esta sentindo nada, não é uma experiencia do nada, porque o nada não se sente, pois se o sentissemos, ele seria algo e desse modo, não seria nada. Tão pouco posso dizer, O nada. O que seria uma definição e como eu disse de outra maneira, a propria definição pressupoe uma existência, ou seja, um ser no tempo, temporal. O nada tão pouco é um não ser, uma negação, uma ausência, se trata-lo assim, entendo que houve algo antes do nada, e como o nada, nada é, essa afirmação sobre ele se torna estranha porque seria ve-lo por uma vies sucessivo, histórico, que o colocaria como um ser. A pergunta persiste o que é o Nada. Responder, dar uma resposta que satisfaça o intelecto, é uma tentação que não coloca a questão no seu devido lugar, porque o nada não se coloca como existência, só podemos falar daquilo que existe, seja uma existência concreta ou abstrata, e o nada, nada é. Por que algo existe? uma resposta pela linguagem seria: porque alguem se dá conta de sua existência, mas algo que passa aquém dessa percepção se torna uma região não determinada, portanto insondável pela linguagem. Então, se é a linguagem que legitima nossa percepção, seria mesmo verdade que o nada não existe? essa forma de perguntar, novamente trata a questão como uma tentativa de trata-lo como algo, e o nada não é, se o nada não é, o que é? tudo, menos o nada, a linguagem cuida de tudo, ilumina tudo, mas o nada se torna dessa maneira impossivel de discernir , porque tudo existe, exceto o nada. Se o nada não existe, como apareceu a questão? por que alguém perguntou pelo nada, como o nada apareceu na mente como pergunta, se a mente é dual e o nada, nada é. O nada nunca apareceu na pergunta, porque o nada, não é pensavel, mas apenas a palavra: nada, que é algo, um signo, que a ponta para algo que não é, signo desalojado de qualquer referencia na realidade. então não podemos confundir o palavra nada, com nada mesmo, porque o nada, nada é. Se o nada, nada é, é possivel experimenta-lo? não senti-lo, porque sentir é uma experiecia simbolica, que supoe uma ocupação da mente com algo, mas experimenta-lo. O que aconteceria se nada ocupasse minha mente, meus pensamentos, meus devaneios, minhas fantasias, a minha mente mesmo, nada, o que aconteceria se eu abrisse mão de qualquer referencia de mundo, meus amigos, minhas posses, meus diálogos, minhas preferências, de modo que um completo vazio tomasse conta de meu ser. Esse vazio nao é como um sentimento, que quando carregado de sentido me dispoe a algo, a um ser, o que me daria uma certa segurança, mas o vazio mesmo, desprovido de qualquer coisa que me desse segurança ou entendimento, porque o sentimento quando sentido me deixa seguro, porque dele extraio algum entendimento, fruto de sua referencia a algo que existe, portanto que me identifico. Uma experiência profunda e carregada de perigos, diz alguns, mas para outros, uma experiencia que coloca o ser em contato com o ser, onde a existência se resume ao si mesmo, sem referencia, ou vinculo com qualquer elemento da realidade, que não seja a si mesmo. Mas onde entra o nada nisso tudo, o nada, não entra em nada, porque o nada, nada, é, se o nada fosse algo, experimenta-lo não seria a experiencia do ser, mas do nada, que nesse ponto se colocaria como algo, como uma moleta, portanto, não seria uma experiencia ontológica. Do nada, nada posso dizer, porque o nada, nada é, mas o ser é, dai sua luz que se explicita pela linguagem. Mesmo experimentando o nada, dele posso enriquecer pela visão privilegiada e distanciada que tenho do ser, do desvelamento das coisas, mas como tenho dito, o nada, nada é, dai o medo de cair nesse vazio, mas o medo, mesmo sendo real, é infundado, porque somos algo, diferente do nada, de modo que a nosso próprio ser nos garante uma existência no cosmo, imerso no nada, mas luminoso e disponível para a linguagem.

Andrade de Campos
Enviado por Andrade de Campos em 21/08/2016
Código do texto: T5735560
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.