Ansiedade
Esse artigo quero terminá-lo em algumas semanas. A ideia é fazer um complemento a cada dois ou três dias. Nessa parte tenho apenas uma pequena introdução. De verdade mesmo não sei se vou conseguir concluir a contento o que me propus, pela natureza da matéria e pela dificuldade em colocar palavras em coisas que nos parece simples desde que ninguém nos pergunte sobre elas. Tudo nesse texto é provisório, até essa introdução pode ser refeita. A ideia é jogar luz nesse assunto, que causa tanto sofrimento e que nos dias de hoje, é quase como uma forma de viver.
Ansiedade.
Escrever sobre ansiedade é algo difícil, porque todos, inclusive eu, já possuímos uma vaga ideia, mesmo que seja intuitiva, do que ela seja. No entanto, conforme já se sabe, a maior parte de nosso conhecimento tem mais relação de como a cultura se elaborou do que por um trabalho sério de ciência ou mesmo filosófico. E se o tema já é difícil pela sua natureza abstrata , pois se trata, de um sentimento, que existe somente no tempo. Um médico legista ao partir alguém para autópsia não encontra em seu ventre nenhum sentimento que tenha estado ali e não foi expresso, no entanto essa pessoa pode ter morrido de ansiedade, ou de tristeza, etc. Então esses sentimentos são mais compreendidos pelos seus efeitos no corpo e no comportamento do que pelo estudo direto sobre eles. Claro que o que quero esboçar aqui é feito a partir da observação, mas não observo um sentimento de ansiedade como observo esse computador na minha frente, que se dá á minha consciência em sua conformação espacial e até utilitária. O sentimento é visto por um viés que não é o do espaço, mas o do tempo. O Sentimento é sentido tanto em sua qualidade quando em sua intensidade, duas informações que não tem relação com o espacial, mas em algo que se dá num ato único através da sensibilidade interior que se chama duração. conforme a nomenclatura usada por Bergson. Essa duração é em último caso, é a própria vida interior, com todas suas variações, altos e baixos, ou a mudanças de qualidade, e nem sempre a mudança de qualidade é de mudança de natureza.
Mas voltemos a ansiedade, o que queremos nesse artigo é dar-lhe não uma definição, que no plano lógico satisfaria uma grande parte das pessoas , mas não aquelas que quer viver sem esse sofrimento. E todos sabemos que com ansiedade não conseguimos uma qualidade de vida. Então o que busco nesse artigo, é mais um entendimento do que algo que contente o intelecto.
Infelizmente, tanto a psiquiatria quanto a maior parte dos terapeutas não conhecem a natureza da ansiedade. Aqueles, tratam-na com medicamento, que drenam a vitalidade, através de mudanças bioquímica do corpo que diminui sua carga energética e os psicoterapeutas , com paliativos construídos pela linguagem. Não nego que os bons terapeutas que fazem uso excelentes de suas qualidades empáticas não tem um efeito bom sobre os pacientes, ou mesmo que curam muitos males, principalmente aqueles causado pelo abandono de si, gerado pela divisão interior no processo de crescimento.
Vivemos numa sociedade em que facilmente tomamos a palavra pela coisas, o símbolo pela realidade. Quando alguém ouve a palavra ansiedade, quase todos tem uma ideia do que se fala, mas nada me garante que a minha ansiedade é o mesmo sentimento que o seu. Esse arranjo serve mais pra equilibrar a relação do que gerar uma comunicação verdadeira nessa relação.
O mais fácil é coloca-la como uma deslocamento do momento, ou como um ansiar por algo que não esteja nesse presente, mas isso é trata-la pelo que ela demanda, ou pela fuga que ela busca e não pelo que ela seja . Essas associações é quase sempre por lembranças relacionadas ao medo, fato totalmente compreensivo já que em quase toda ansiedade existe mesmo um componente de medo envolvido, ou a negação do momento em função de uma fantasia na positividade de algum futuro.
Mesmo se fizéssemos uma fenomenologia através da descrição do seu conteúdo ainda não me daria por satisfeito, uma vez que esse trabalho de apreensão não nos diz muita coisa no campo da vida prática ou mesmo do bem estar que todos que dela padece busca compreender.
Muitos a define como um medo de ser, que de certa forma tem sua coerência com a forma que quero expô-la . Mas, medo ser não me parece adequado, principalmente pelas dificuldade que se coloca para compreender o que é ser, ou o sentido de ser, conceitos que parecem simples mas que tem uma dificuldade muito grande de serem apreendidos.
A ansiedade é algo que não é sentido, porque o próprio ato de sentir já é um aterramento, que geraria uma segurança existencial, o que negaria a própria ansiedade como incapacidade de ser. Ansiedade vagamente
Nos tira do estado de presença, de segurança, e de controle, é como que uma carga fervendo dentro da gente. É mais como uma força caótica na nossa energia, mais como algo que não tem um finalidade definida, um sentido, uma clareza, é justamente essa sua áurea aérea e indefinida que gera nas pessoas que dela são acometida a sensação de perturbação e inquietação, que não nos permite sequer nos concentrar no que estamos fazendo. Se é algo que não é sentido é possível que seja um sentimento? Se a ansiedade não é um sentimento como a psiquiatria entende, o que seria ansiedade?
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Você está andando pela rua, um dia bonito, você tropeça em alguém que não gosta do ocorrido e te ofende e vai embora. Seu corpo como é vivo, é natural que senta raiva do ocorrido, essa raiva não foi expressa e essa energia se acumula no seu corpo. No momento quando apareceu era uma raiva, porque havia uma situação, tinha um sentido, um objeto, mas o sentido não se segura, salvo se o construírmos no imaginário , mas o momento passou, aquele energia disparada continua no seu corpo, não é mais o sentimento de raiva, mas um resíduo que se entranhou nas suas vísceras.
No mesmo dia tem um encontro, a mulher que está apaixonado, convida-a para a sua casa, sob o lençol ou no assoalho, jogados , você a beija, sente a excitação sexual, seus lábios e o dela tremem, o corpo todo vibra, é algo vivo que os atravessa, as mucosas íntimas ficam úmidas, muitos beijos, carinho, o desejo a flor da pele, seu órgão sexual dói, está todo carregado dessa energia, tenta tirar sua roupa, ela não cede, você fica chateado, fala algo, ela vai embora. Essa energia sexual não é mais sexual depois dessa frustração, outro resíduo acumulado.
Mais tarde você vai se encontrar com seu amigos, senta num boteco desses capengas do centro da cidade, toma algumas cervejas, conversa vai e conversa vem, você fala da mulher, todos riem, alguns lhe tiram o sarro, toma mais algumas cervejas, come alguns petiscos, mexe com a moça da outra mesa, que finge que você não existem. De repente tudo fica calmo, alguém lhe revela que um amigo muito querido está preso e vai ficar um bom tempo preso. Você lembra dele, das bebedeiras, das viagens, daquela fez que ele te ajudou numa questão muito séria. Sente um nó da garganta, uma vontade de chorar, mas você é tenso, é rígido, nunca teve autorização para ser sensível. Daqui a pouco tudo passa, o choro vai embora, e você volta pra casa. Aquela tristeza que teve autorização pra vir apenas até a garganta, ainda está lá, mas agora ela está sem sentido, é uma tristeza morta, uma energia que não está conectada com o contexto do amigo preso. Ela se transformou num resíduo.
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