Sarau do recanto das letras - terceira fase - alguns poemas.
Para essa fase, não convidarei ninguém, mas exponho os poema ao universo que todos habitam. Farei a festa com os de casa, aos que já sabe o caminho da minha morada. O que já não precisa deixar pedras ou pipocas pelo caminho. Como não convidarei ninguém, salvo os já convidados, serei mais generoso como a minha exuberante vaidade. Não porei á janela um, ou dois, porei, talvez cinco ou seis poemas, que na minha algibeira já grita pela possibilidade de mais uma vez serem discorridos pelos olhos de outros espíritos. Todos eles foram apanhados na mais profunda indelicadeza divina, nos vãos mais tristes e desolados do meu corpo. Por isso, dou a eles o meu coração, que por tanto tempo não tiveram uma voz que os renasça.
dois mundos
o impulso que me chega
não é poesia, tampouco,
inspiração, é o mistério
que pede perícia e no
tecer de artesão, vou
esculpindo-o em versos,
e deles nascem o poema:
ilha para a encantação, que
sintetiza um abismo ,
com aresta e profusão.
quando pronto, o poema
se faz mundo:
bonito, claro e estruturado.
por fora, mostra a beleza ,
por dentro, esconde o diabo
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um canto de mão
O poeta abre-se no
Escuro sem medo:
Insígnia de sombra
Que adensa a vida...
Suas armas, palavras
Versos: acortinados,
Que explodem-se como
Sóis na floresta bruta.
Vibram-se em aquarelas:
cítricas imagens em
Sonoros vôos, à janela...
E um novo estágio
Se instala no mundo
Ao canto de uma mão
Que escreve um poema
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A melhor Luz
É aquela que
Na forma declina;
E não se contorce
Ás mãos que prosseguem
Em labuta;
é essa máxima
que acende a lâmpada
do esforço,
É a espera que exaure
o enigma.
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a dor, se pôr
em miúdos:
é barragem
que não se rompe;
é a pele prendendo,
no pequeno o que é
grande;
é não colocar o sol
mais perto do que longe;
é intuir-se braço inteiro
mas
vaga-lume , muro,
falange;
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Minha vida ficava
em um cipreste
que me amarrava
ao mundo...
meus olhos
eram cansados
e minha fome
era de amor;
E por não tê-lo
eu aprendi
a amanhecer
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vivência.
A tua casa é lânguida
E a tua boca e de tangerina;
Uma brasa grita e geme
na tua boceta creme;
e no largo da taboca
onde os peixes voam
sinto teus olhos me vendo
e a terra em carne acendendo
e mata a vontade de ser
da porta, o compreendo!
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inteireza
Se tiro o talo da folha,
Se persigo e excluo seu
Veio, se excluo sua forma
Folha, o que fica da folha?
Se excluo o azul do céu,
Seu sol, sua lua noturna,
Se exclua suas nuvens
De prata, seu infinito
De sonhos, suas estrelas
A sensação de bruma?
Tem coisa que não
Se tira da coisa, porque
É da coisa mesma. E se
Eu fizer isso, não posso
Guardar a coisa, a coisa
como a coisa mesma
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O verde
O verde da folha do milho
É o verde da folha de goiaba?
E o que falar do verde
Do grilo, que alguns, no
Estado da Bahia chamam
Esperança! ...
E o verde do mar,
E o verde da mocinha
Que ainda não sabe de nada...
E que é bela por causa disso.
Que sua beleza vem desse
Verde que ainda lhe exala?
Que espécie de sonho
Vive as coisas bonitas
Que se deixam inundar
Desse verde?...
Gosto de verde, como gosto
De fruta verde,
Dessas frutas que o verde
Não está somente na casca
mas no miolo, na intimidade
da fruta...
A mesma fruta verde
Que não sabe de seu destino.
Não sabe que algo
Vem lhe amadurecer,
lhe tirar sua cor.
Porque algo da vida
Lhe precisa assim...
A vida deveria ser toda verde
Sem o apodrecimento da noite
Ou das coisas que não tem cheiro
de verde.
Mas essa tolice talvez não revelasse
A vida