Cidade

De um sonho idealizado/

A uma lenda encorpada/

Vejo empoçar-te no chão/

Como grão/

Enraizando em formas até a vida/

Sem humildade ou coração/

Vais como a senhora da situação/

Canaliza-se os canais/

Pavimentam-se vias/

Sobem os verticais/

Na marginal do horizonte/

Vê-se apenas construções/

Ouve-se ruídos, gemidos e agitações/

Na ordem da civilização vieste como o produto da industrialização/

Onde em todo o processo/

O homem perdeu o sentido para a finalização/

És fria/

Cujas palavras duras vão além da razão/

A tua solidão/

Macula a ferida humana/

És deserto/

Pura segregação/

A voz sem imitação da fome/

Da miséria, da ignorância e da desigualdade/

A alma pura e exposta da corrupção/

Que mata os seus filhos sem esboçar sentimento de compaixão/