A METAFÍSICA DA ESTÁTUA
A METAFÍSICA DA ESTÁTUA
Espalhava um bocado antes
viria com tal vestido
colorido um tanto além da cota
quem vota pra ser a bela jardineira
das paisagens
só ela poderia plantar as flores-códigos
no caminho pra ela passar
os cardumes precisam da minha
liquida imagem de deusa
imitar meu rebolado costumeiro
desde a primeira adoração
o diabo criou-me devotos
deus cuspiu seu sangue numa taça
pra que bebesse
seu interesse era me engolir
trazer de novo Eva
pra outro adão mais popular
um adão que não come a maçã
não come o saber
tão pouco come alguém
diz amém por estar a meu lado
um homem esbelto alto bonito
sem frescuras da aflição
um figurino vivo
meu guardaroupa masculino
meu guarda-conjunto
pra beleza não ficar sozinha
beleza nascida é um golpe baixo
beleza vendida é tão fácil
torna popular o corpo
perante toda mente estúpida
quem pensa demais
acaba sendo pedante entre os outros
acaba louco confuso solitário
conheço estes "formulários"
pobres sem dinheiro
orando nos cincos dedos
p'ra salvar-se da ilusão
uma fusão preenchida com a vassidão
televisiva que não acusa
a mulher doutro lado já aconteceu
eu pertenço a noite das boates
dos botes salva-vidas da moda
das entrevistas
dos cartazes czares das ruas
nas avenidas do desfile
entrego-me ao desastre convicta
que na próxima revista
serei pelo menos alguma página.
MÚSICA DE LEITURA: JACK WHITE - FLY FARM BLUES